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Os 7 lutos migratórios: perdas invisíveis que muitos imigrantes carregam

  • Foto do escritor: Luiza Gondim
    Luiza Gondim
  • 17 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 3 de jul.



Mudar de país é uma das experiências mais desafiadoras da vida. Mesmo quando a mudança é desejada ou planejada, o processo migratório envolve perdas marcantes — algumas visíveis, outras silenciosas, mas todas emocionalmente significativas. É o que chamamos de lutos migratórios.

Esses lutos não se referem apenas à morte de alguém, mas sim a tudo aquilo que foi deixado para trás. São sete os principais tipos de luto que o imigrante pode vivenciar:

1. Luto familiar

A separação física de entes queridos é uma das dores mais significativas da migração. Muitas vezes, o imigrante não pode trazer sua família consigo, tampouco visitá-los com frequência. A saudade se transforma em presença constante, e o afastamento pode intensificar sentimentos como solidão e culpa. Por outro lado, é importante reconhecer que nem todos os vínculos familiares são saudáveis. A distância, nesse caso, também pode ser uma oportunidade de estabelecer novas formas de se relacionar — com mais limites, mais cuidado e mais consciência.

2. Luto linguístico

Perder o domínio da própria língua no dia a dia pode ser extremamente doloroso. A comunicação, que antes fluía com naturalidade, agora exige esforço, adaptação e, por vezes, frustrações. Até mesmo em países que falam o português, como Portugal, muitos brasileiros relatam dificuldades de expressão e compreensão.

A primeira geração de imigrantes tende a sentir isso de forma mais intensa. Ao mesmo tempo em que aprendem uma nova língua, enfrentam jornadas de trabalho exigentes e, em muitos casos, situações de vulnerabilidade social que dificultam o aprendizado formal.

3. Luto pela terra

A terra natal é mais do que um território: ela carrega memórias sensoriais, afetivas e simbólicas. O cheiro da chuva, a comida feita no fogão da avó, o jeito com que as pessoas se cumprimentam na rua — tudo isso compõe um universo que fica para trás.

Essa ausência pode gerar idealizações e uma saudade quase mítica. A perda da terra é, muitas vezes, a perda de um pedaço de si.

4. Luto pelo status social

No país de origem, o imigrante tinha uma profissão reconhecida, uma rede de contatos, um papel social bem definido. Ao migrar, muitas vezes há uma “regressão”: pessoas qualificadas se veem em empregos que jamais teriam considerado antes.

Essa realidade pode gerar frustração, vergonha e sensação de invalidação pessoal. As expectativas em torno da “vida melhor no exterior” nem sempre se concretizam, e isso exige um reajuste emocional profundo.

5. Luto cultural

A cultura vai muito além de festas e comidas típicas — ela molda nossa visão de mundo, nossos valores e comportamentos cotidianos. Viver em uma nova cultura significa, muitas vezes, abandonar referências que nos orientavam.

Por exemplo, um brasileiro acostumado com o calor humano, o toque, a espontaneidade, pode se sentir deslocado em países europeus onde o contato físico é menor e o ritmo social é mais reservado. Adaptar-se é um processo que leva tempo e que pode gerar sentimentos de perda e confusão sobre “quem eu sou agora”.

6. Luto pela identidade e pelos vínculos sociais

Quando migramos, nossa identidade é posta à prova. Elementos como etnia, religião, classe social, idade e até a forma como fomos criados podem entrar em conflito com os padrões culturais locais. Muitos imigrantes sentem dificuldade em se reconhecer no novo contexto. A ausência de referências culturais familiares pode provocar um sentimento de não pertencimento — nem aqui, nem mais totalmente lá.

7. Luto pela integridade física

A migração também pode colocar em risco a saúde e o bem-estar físico. Situações como trabalhos insalubres, moradias precárias, travessias perigosas ou processos migratórios mal estruturados aumentam a vulnerabilidade. Essas experiências traumáticas deixam marcas profundas e podem resultar em adoecimentos físicos e emocionais. A sensação de insegurança constante reforça o sentimento de perda: da estabilidade, da paz e da previsibilidade.

E quando o luto não passa?

O luto migratório pode ser silencioso e, justamente por isso, muitas vezes negligenciado. Quando esses lutos não são elaborados, eles podem levar a um estado de paralisia emocional e dificultar a adaptação à nova realidade. A pessoa se vê dividida entre idealizar o que perdeu e rejeitar o que está vivendo agora — abrindo espaço para sentimentos como tristeza crônica, ansiedade, raiva, isolamento e até depressão.


A boa notícia é que existe caminho possível de reconstrução. O sofrimento, quando acolhido, pode dar lugar a um processo de transformação pessoal. Muitas pessoas, ao elaborarem suas perdas, descobrem novas forças e conseguem reconstruir sua vida com mais sentido, mesmo longe de casa.


Você se identificou com algum desses lutos?

Se você é brasileiro e está vivendo no exterior, talvez esteja carregando dores que não têm nome, mas que pesam no dia a dia. A psicoterapia pode te ajudar a reconhecer essas perdas, dar espaço ao que dói e construir novas formas de estar no mundo — sem precisar negar suas raízes, sua história ou quem você é.


Se você acredita que é o momento de olhar para isso com mais cuidado, estou à disposição para te acompanhar nesse processo.



 
 
 

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Luiza Gondim
Psicóloga Clínica - CRP 32136

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